quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Novalis e seu Hino à Noite (lindíssimo...)


"De entre os seres vivos que têm o dom da sensibilidade haverá algum que não ame, mais do que todas as aparições feéricas do extenso espaço que o rodeia, a luz, em que tudo rejubila as suas cores, os seus raios, as suas vagas; e a suave omnipresença do seu dia que desponta?

Como se fora a alma mais íntima da vida, respira-o gigantesco orbe dos astros sem repouso, que flutua dançando no seu fluxo azul - respira-a a pedra faiscante, que sempiterna paz, as plantas sugadoras e meditativas, e os animais selvagens e ardentes, de tão várias figuras - todavia, mais do que todos, respira-a o excelso Estrangeiro, de olhar pensativo, passos incertos, lábios docemente apertados e repletos de harmonias. Como um rei da terrestre Natureza, ela convoca todas as potências para inúmeras transformações, prende e desprende perenes vínculos e envolve todos os seres terrenos, na sua celeste imagem. Somente pela sua presença desvela toda maravilha dos impérios do mundo.

Para além me volto, para a sacra, a indivizível, a misteriosa noite. Longínquo o mundo jaz - decaído para uma funda cripta - e ermo e solitário é o seu lugar. Nas cordas do peito sopra uma profunda nostalgia. Em gotas de orvalho me quero deixar afundar (...)"

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