segunda-feira, 15 de março de 2010

Encaixe (fragmento)

*Anke Merzbach
(...)

Todo corpo arde, não importa a forma que seja... se por ventura ele quer se evidenciar, assim será, independente de sua opinião ou de seus pudores. Mesmo nessa noite fria, mesmo na mais intransponível revolta, o corpo sempre arde, pois o fogo é atemporal.

Mesmo assim, não estava a falar disso. Interessa-me, mais que o próprio fogo, o motivo que o faz queimar por mim. Um ser que queima por mim é um objeto intrigante e delicioso de se pensar. E mesmo assim, ainda há partes quentes impensáveis, cuja essência só se prova, se por acaso se permitir provar.

A prova do teu fogo seria ainda mais a minha condenação do que a sua. Provar-lhe só porque me ofereces a ti, sem laços, sem dramas. Para tentar sentir o que sentes, a dimensão do que posso ser em si (...) - uma curiosidade que me levaria a cair na boca do mundo, mas que sucumbiria de olhos fechados ao gosto da experiência (...).

(...)

E não é um desejo egoísta – provar o que sou naquilo que te atrai (...) é encaixe! É um compartilhar de mundos e de nossas diferentes faces, é buscar nesse fogo toda a possibilidade que as horas permitem. Quero-te pelo que te causo, mas quero-te pelo mistério que há em si. Pois mesmo que te conheças, há sempre este mistério que me faz queimar... 

*rasgado da minha imaginação ao som de "Dead Can Dance -  De Profundis - out of the Depths Sorrow".

4 comentários:

  1. Se calhar, quando o mistério já não o for, a paixão que sentes se esvai. É essa a triste loucura da paixão...
    Gostei muito do que escreveste, linda:)*
    bjs

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  2. quando o mistério acabar, ela precisa ser transmutada em outra coisa... de prefrência com mistério...

    Obrigada, querido
    Bisè

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  3. Adorei o texto...lindo como muitos outros daqui, bjs linda...

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  4. Obrigada... fico feliz que tenha lido e gostado!

    bjocas

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