segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A carne e o resto do todo

"Nu no bosque - Jean Dieuzaide (1975)"

(...)
Meu desgaste está na minha relação com um mundo sem conforto, na náusea de viver - e de vir a ver sempre as mesmas nuvens no céu. No meu cansaço ocultam-se muitas coisas e também uma observação mais demorada do olhar faminto daquele homem sem graça, parado adiante, que vê em mim um pedaço de carne,

apetitosamente saboroso,

e sem qualquer sentido maior do que meramente servir para aplacar a volúpia...
Mas talvez sejamos, à primeira vista, apenas isso:
carne para fins alheios. E talvez as evidências que tenho de outros formatos dos outros partem sem fim de minhas próprias expectativas, idealizações que costurei com as linhas do tempo - o que quero nos outros (além de sentir a estática corpórea num ambiente não-estático) está apenas em mim, e o que os outros almejam quando me veem é apenas instinto...
Mas creio ainda que
entre a máscara e a carne há outras profundezas e nunca foi comum a ninguém evidenciar seus abismos tão facilmente (...)

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