domingo, 24 de janeiro de 2010

exis + (persis) + tência


no grito que dou
larga-me a pele saturada
numa roupagem em decomposição
vestígios dos momentos de que não mais preciso
destas partes de mim
que não mais sou

isolo de tudo o meu todo
para que eu possa no encontro de mim
encontrar-me
e quando as veredas de tudo o que quero, atinjo
sou e deixo de ser
aquilo que sempre fui

caminho com pés leves
entre cacos de sonhos brotantes...
e nas visões dos dias que não fui,
não mais sendo aquela, daqueles dias,
vago entre lembranças moribundas e novas delícias
no anseio de uma outra aurora que me faz cegar os olhos...

não me intriga mais saber
quanto de loucura há na imagem que fazes de mim
ou se a verdade é minha ou tua
pois, não é seu Sol que ilumina as pedras que me isolam do resto
disso que deveria ser por mim valorado,
como o peso imposto de um mundo decadente...

sou e não sou, mas continuo sendo
essa ânsia de não saber dizer o que sinto
mas de ser convicta naquilo que busco
e aquilo que não sou e que fui, eu deixo
à margem do que represento
para mim mesma...



*ao som de "Babe, I'm gonna leave you - Led Zeppelin"

3 comentários:

  1. Poesia linda e profunda demais, desce ao fundo da alma refletindo imagens e solidão.Parabéns.Se puder visite meu blog ventosnaprimavera e leia a poesia "Jardim sem Anjos", ficarei honrado com sua visita.Tudo de bom pra você.

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  2. Darei sim uma passadinha no seu blog! Obrigada por visitar meus fragmentos.

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  3. Daisy,

    Uma espinha dorsal do que se é, do que se rasga porque sobra no ser, da coragem de enveredar espinhos para encontrar-se na busca.

    Bravíssimo.

    Neste grito, falo tua língua.

    Deixo-te algo que um dia gritei:

    Há tantos diferentes gritos na garganta do mundo.
    Há tantas vozes que não deixamos ecoar.
    Há tantos de nós que se deixam amordaçar.
    E fica-se a ouvir a implosão do grito mudo.

    Porque talvez o barro de que fui feita fora retirado de solo quente, rachado pelo sol, sedento de chuva, fiquei assim... sem medo de queimar a sola dos pés nas brasas do mundo... Urgem-me passos. Não consigo estar parada. Não consigo achar sabedoria no silêncio. O que este é além de um eco de surdez? Também não sei onde vai dar a linha que sigo, não sei se a vontade que me persegue me peregrina. Sei que vou até onde minha voz alcança.
    Antes rouca que muda!

    Katyuscia Carvalho
    .
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    .
    Beijos.

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