segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

lussuria *


os lábios
profanam
enquanto a língua
vacila
e não diz
nada
apenas o que possa
ser experimentado
sem o verbo


e segue
o esvaziar-me
de mim
do que represento
e nas pontas dos dedos
nenhuma solidão
apenas impulsos
latejam
latejam
latejam

os pés nus
(e todo o resto)
caminham no piso escuro
sala a dentro
penetrando a noite
sem atritos morais...
anseios e música
vibram
a pele
e o azulejo

a noite
não dorme
nem os lábios
nem a língua
nem os pés
nem a música...
em tudo
há lascívia
ou só em meus olhos...

ou nos olhos da figura oposta...

*Luxúria... lascívia (italiano)

5 comentários:

  1. As linguagens que só o corpo fala, que só com o corpo se escrevem, no pré-ritual de serem traduzidas...

    "a noite não dorme"...
    arde!

    Belíssimo, Daisy.
    .
    .
    .
    Katyuscia

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  2. ... e a noite arde em mil imagens
    o que era escuridão
    continua sendo escuridão
    mas com mais sabor...

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  3. La lussuria è l'abbandono lascivo al piacere sessuale... (da Wikipedia)

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  4. Dois pormenores exigiram a minha atenção:
    A repetição do negativo em "e não diz nada" e a ousadia de "sem o verbo"!




    A repetição apontada sugere-me uma espécie de inconformismo latejante. Já a ousadia manifesta... bom... também eu, de vez em quando, remeto-me à imaginação de um cenário digno de renovação.
    No principio, tudo era o verbo e, tudo isto é fruto do seu ofício.
    Aceito que o verbo seja divino e a minha abertura espiritual é tão romantica ao ponto de considerar a ausência dele (o verbo) aqui e hoje, assim... tal como tu.

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  5. O que seria da vida sem o inconformismo? O que seria de nós sem este divino desejo humano de fazer barulho e desalinhar este cotidiano decadente... transformá-lo de forma a nos elevarmos destas mesmas pequenas satisfações mundanas... ?

    Todos os meus cenários (imaginados e vividos) possuem a necessidade de um campo fértil para coisas novas...

    Se no início tudo era verbo eu não sei... mas me interessa saber o que há lá no fundo: no espaço onde o verbo existe nos mais variados ecos... e no espaço onde, na falta do verbo, ainda há o verbo, em suas significâncias, em seu sentido prático... nos fragmentos que o transformam em novas imagens...

    Alegro-me de tê-lo, Aesis, aqui no meu espaço... obrigada por comentar!

    Bjs

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