sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

NOTAS NOTURNAS



a noite
sofrida
rasgada
calada
doída
é sonho que transborda
dessas notas dissonantes,
meu constante gritar
é ainda mais querer
........ a noite
doída
calada
rasgada
sofrida

domingo, 9 de janeiro de 2011

Serenidade


Vertiginosa, a noite desce sob a minha pele e encontra solidão. Não uma solidão qualquer, minha solidão identificadora de mim, que por vezes espero ansiosamente degustar sozinha. (...) Mas a noite toma conta. Me toma. Dentro, é revés do que dentro já estava. E mesmo a noite que me tem precisa se encaixar as minhas curvas - sinuosidades íntimas.
(...) Tudo me encanta pelo gosto que possui. Gosto noturno. Me encanta pelos abismos contidos. Pela descoberta dos abismos estrangeiros, os abismos dos outros. Bocas, cheiros, movimentos, peles sem pensamento. Sem pensar. Da falta constante de ar. Tudo dura menos que um segundo e vira tudo coisa igual, tudo parecido. Menos vontade e mais vontade, intermitentes pulsos noturnos que seguem noite a dentro. Dentro de mim, mais uma vez e outra ainda. Pulsos no brilho das calçadas, do sereno. Pulsos de serenidade e afirmação (...).


"Mas é que a verdade nunca me fez sentido. A verdade não me faz sentido! É por isso que eu a temia e a temo. Desamparada, eu te entrego tudo - para que faças disso uma coisa alegre. Por te falar eu te assustarei e te perderei? mas se eu nunca falar eu me perderei, e por me perder eu te perderia." (Clarice Lispector - A Paixão Segundo G.H.)