domingo, 18 de setembro de 2011

sábado, 14 de maio de 2011

amarras


os dias já nascem velhos...
as pernas são cobertas de luz e tormenta
buscam a vida entre qualquer vida
olhos em qualquer olhar
nada quer de tão pouco
anseia apenas o sopro
o pulso
não o sono
não o peito vacilante...
tão púrpura vontade que não nega
a vida ainda é ínfima
que tudo se desintegra e não suporta
grita... e não se encontra
cava forte nova cova
deixa-se ao vento, a própria sorte
lamenta a inércia, ainda lamenta...
em ruas e vielas ermas
nada de si em tudo o que é
absorve a própria carne junto ao corpo 
mais uma vez, tudo o que resta
e assume os vazios
e assume as imensidões...
e a espera que ainda existe
já me pertenceu...
nos meus dias re-versos
minhas amarras douradas...



*Saudade destas linhas, desta escuridão...


sábado, 19 de fevereiro de 2011

do tempo

(para quem - lá longe - olha pela janela e mesmo assim se encanta com coisas demasiado humanas...)

na passagem do premeditado
a espera torpe do tempo
um quase-algo.
em slow motion
seguem os olhos
paisagem irremediável
mudança fértil,
natureza humana...
espera.

as pequenas coisas selvagens
ficam num canto, caladas
hoje, é fitar as folhas cadentes
e viver os pés leves, pensamentos
sentir a vida além...
incendiar as palavras
com saborosa cautela...

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

em resposta a Fome...



A casa é só mais silêncio
a fome, é a palavra
os perdões, deglutidos, inexistentes
na pele deste ninguém que longe queima
pois vive...
no sorriso indecifrável
daquele não-saber vivente
da vida - nunca realidade
uma vez que o real
parece ser tudo o que tenho
e os passos precisam ser dados
e assim ser "algo"

prosseguir da propulsão
de ser quem somos
sem certezas
sem ainda antecipar a Fome

pois cada linha destes gestos
um mergulho único, aproximação
um sorriso
uma dose de vida

(devoro-me os interiores
para te entender
e no interior de si
devorar-te também)

*referências da música, clique Goear / sem referências da imagem

domingo, 6 de fevereiro de 2011

De Emil Cioran

"Quando se percebe existir, experimenta-se a sensação de um demente maravilhado que se surpreende com sua própria loucura e busca inutilmente dar-lhe um nome. O hábito embota nosso assombro de existir: somos, e vamos além, ocupamos nosso lugar no asilo dos existentes (...)" - Cioran

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

NOTAS NOTURNAS



a noite
sofrida
rasgada
calada
doída
é sonho que transborda
dessas notas dissonantes,
meu constante gritar
é ainda mais querer
........ a noite
doída
calada
rasgada
sofrida

domingo, 9 de janeiro de 2011

Serenidade


Vertiginosa, a noite desce sob a minha pele e encontra solidão. Não uma solidão qualquer, minha solidão identificadora de mim, que por vezes espero ansiosamente degustar sozinha. (...) Mas a noite toma conta. Me toma. Dentro, é revés do que dentro já estava. E mesmo a noite que me tem precisa se encaixar as minhas curvas - sinuosidades íntimas.
(...) Tudo me encanta pelo gosto que possui. Gosto noturno. Me encanta pelos abismos contidos. Pela descoberta dos abismos estrangeiros, os abismos dos outros. Bocas, cheiros, movimentos, peles sem pensamento. Sem pensar. Da falta constante de ar. Tudo dura menos que um segundo e vira tudo coisa igual, tudo parecido. Menos vontade e mais vontade, intermitentes pulsos noturnos que seguem noite a dentro. Dentro de mim, mais uma vez e outra ainda. Pulsos no brilho das calçadas, do sereno. Pulsos de serenidade e afirmação (...).


"Mas é que a verdade nunca me fez sentido. A verdade não me faz sentido! É por isso que eu a temia e a temo. Desamparada, eu te entrego tudo - para que faças disso uma coisa alegre. Por te falar eu te assustarei e te perderei? mas se eu nunca falar eu me perderei, e por me perder eu te perderia." (Clarice Lispector - A Paixão Segundo G.H.)