segunda-feira, 30 de novembro de 2009

aço

confesso todos
meus fragmentos de aço
no entendimento de que agora sou também isso:
mil pedaços
não vencidos


(Imagem: Gustave Moreau - Salomé)

poesia consciente

e a poesia cortou os pulsos...
gotejou versos lânguidos
renascendo... toda prosa!

borboleta

nua
crua
a solidão me toma
da multidão de espectros frios
expectadores pacientes...
solitude que me transmuta
em pura consistência
condição de áurea borboleta...
e flutuo
entre trincheiras de versos
desconexos...
...que desconheço!


confiança

desentendimentos vãos...
vida de verde musgo liso
onde os dias escorregam
e a confiança se quebra
fratura exposta da alma
no pedaço já fissurado desta...

(não sei a autoria da figura... sorry!)

destino


Vivo no desalinho
na linha segura do trem...
que não mais passa...
que não mais vem
tanto faz ficar,
tanto faz sair...
da estrada completada,
no horizonte jamais atingido...

Poema de Incondicionalidade

(a Gustavo... pelo seu amor sem igual)

na fúria
do meu surto comum,
suportas minha falsa leveza
com mãos amáveis
proteção inabalável...
nos rancores alheios
erro, por vezes, os alvos...
e se te acerto sem querer,
sou eu quem morro...
pois mesmo assim,
transcende-me em amor
compreensão que não compreende
mas que aceita!
e na sua sombra
sou pequena,
fragilidade enigmática
cristalizada...
pueril... na valsa do teu corpo...

Ambiente


vaso de cera,
risco em Dó...
na luz ambiente
desta manhã de segunda

numa segunda-feira...

Bipolaridade


DIA É ACELERAÇÃO!!!
pulamos etapas,
TODAS!
mente estratificada
meu mundo, um bloco
monolito de fria cor
de 08 a 80
não vivemos o desenvolvimento desta sentença,
equação indiferente
que equação? Só resultado...

(NESTE RITMO A ALMA
ESTICA, ENCOLHE, ENROLA,
Nunca ALCANÇA!
mas nos cansa... e como tudo isso cansa!)

coletividade


"sou minha própria narrativa!"
que grande bobagem!
narramos a todos nós!
toda história anterior,
interior construção!
célula orgânica
tudo habita a minha experiência
(...)
limite onde? o que é só meu?

essência deste blog...


nada disso é propositalmente bonito,
palavras sem exigência...
desejo
desconforto
amor
ódio
misantropia
afeto
arte
idiossincrasias
sensibilidade
tédio...
tudo se basta como representação
de um mundo externo
(meu mundo interno)
nada virtual...
sem almejar riscos ou risos.
Prefiro minha própria verdade
que está aí para quem quiser provar...
um album de figurinhas não-colecionáveis...
com seguidores legítimos
que não coleciono,
mas que nas minhas palavras veem significações...

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

... and in my tongue...

na ponta da língua: cartografia...
a alma toda, (perdida)
o corpo inteiro, (entregue)
como se não bastasse o momento... (unidade)



(como esse blog é esquisito, né???)

Luar Lúgubre

(...) e a Lua derrete-se sobre as nuvens
espelha as brumas na noite escura
torna-a falso-dia
aqui, neste mundo entre árvores,
entre sonhos...
entre decepções...
entre vontades conscientes...

(a cada noite, a Lua faz de seu show minha morada fria, mas desejada!)

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

martírio moderno (e todos os outros sacrifícios)

não serei mártir
de palavras vivas...
sem rendição expressa!
ou entre-linhas vive-se,
ou deixa-se corroer por este envoltório profano,
tempo plastificado,
que nos sufoca
e suprime a mente liberta
e o desejo de ultrapassarmos
a nós mesmos...

(ouça: The Gathering / Saturnine)

PROCESSOS CONTÍNUOS


PLANTAMOS
NOSSAS
LÁGRIMAS
ONDE
COLHEMOS
NOSSOS
FRAGMENTOS!

BROTAMOS DE NÓS MESMOS
QUANDO COMPREENDEMOS
NOSSOS
(NOVOS)
PEDAÇOS,
SEM A INTENÇÃO DE
JUNTÁ-LOS NOVAMENTE...

(ao som de Learning to fly / Pink Floyd)

Reminiscência


A beleza do claro espírito,
mil motivos e mil palavras,
não forçou a alma ferrosa
de obtusa condição
tão suficiente de si mesma
a reconhecer tamanha nobreza...

Este é o destino de certas flores:
nascem para amortecer as garras contra o chão
e em milhares de pedaços
encerram sua existência
- apenas por alguns instantes...

Raízes percorrem as profundezas
nutrem o claro espírito
de novos gostos, formas aleatórias
e os sabores arenosos da alma ferrosa
compõem apenas vagas reminiscências,
cortes grotescos que o tempo fecha...


(por baixo de nossas armaduras, guardamos cortes profundos, milhares deles até... mas não os tocamos... os perdemos dentro de nós mesmos... em algum lugar de nossas almas.)

(leia ouvindo "Afraid of Sunlight" de Marillion)

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

DANÇA


mares
verdes
campos
dança de olhos em jardins noturnos
sons que nos embalam
para além do horizonte...
e no vento quente do verão escuro
tecidos sedosos deslizam no ar

movimentos delicados
pernas
braços
ventre
olhos
todos propositais!
e em polifonia oriental,
múltiplas culturas distantes...
no palpitar grave da percussão
em pele quente...
da minha dança febril
ao cheiro da chuva na terra
olhos hipnóticos...

(vejo meu movimento no espelho dos seus olhos...)

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

dos tabus poéticos...


OU O POEMA AGRADA
OU ELE NÃO É BOM

OU ELE É BOM
POR NÃO AGRADAR

PADRÕES SÓLIDOS?
ENTÃO, ARTE INEXISTENTE!

IMAGENS DIVERSIFICADAS DE SI
LOGO, INCOMPREENSÃO!


(no limite do que não compreendemos reside coisas preciosas... O que é repulsivo não está no poema, está em si, pois aquilo que lhe parece desconfortável é seu próprio reflexo...)
(o que aparentemente é bizarro, possui consciência...)

(para ouvir: Eluveitie - The Cauldron of Renascence)

Coisas que gosto...

"Está tudo planejado:
se amanhã o dia for cinzento,
se houver chuva
se houver vento,
ou se eu estiver cansado
dessa antiga melancolia
cinza fria
sobre as coisas
conhecidas pela casa
a mesa posta
e gasta
está tudo planejado
apago as luzes, no escuro
e abro o gás
de-fi-ni-ti-va-men-te
ou então
visto minhas calças vermelhas
e procuro uma festa
onde possa dançar rock
até cair"

(CAIO FERNANDO ABREU)

Fusões...

(...)

grama, tapete verde de múltiplos tentáculos, segura o corpo ao chão, enquanto outro corpo comprime contra si evidências de uma alma insolúvel, que jamais se rende e que ao mesmo tempo, já se rendeu e o outro nem sabe...

sabores diversos impregnam as entranhas e o cheiro de noite fresca projeta um ambiente obscuro e fecundo de novas intenções... incontáveis desejos e pensamentos difusos em cada canto do corpo...

o vento orvalhado traz fragmentos de realidade aos corpos perdidos em uma esfera paralela, transmutados em energia única - no limite da sombra da noite e da curva do corpo, só há nos olhos reverência e compreensão... todo resto é sentido, todo resto se funde...

(--->>> continua...)

órbita provisória


temos todo direito de ser isso tudo:
transcender a figura
desfigurar a imagem
retorcer o corpo
retroceder o tempo...

breves são estes dias
finitas possibilidades...

quanto mais se segura,
mais se perde
aquilo que só existe como imaginação...

os novos dias?
todos armadilhas ainda...
todas as armadilhas...


(... nem sempre queremos isso que produzimos e os outros chamam de arte...)