quarta-feira, 21 de outubro de 2009

NUIT



eu não durmo para poder saborear a noite
e é a noite que me saboreia...
me encerro em mil imagens...
luxúrias noturnas,
todas as palavras lhes levam ao meu
domínio...
territórios de
ásperos
ou
doces
significados

TUDO DENTRO DO TODO



resistem um olhar estelar,
um corpo dual
e sombras simétricas fora de curso...

*

domino os contornos energético,
das vibrações, as mais contínuas
e lateja minha existência...

*

viveu mil anos e não viveu ainda
sonhos pulsantes, pulsares intangíveis
dentro de um ser único, recém-des-coberto!

*
minha face na tua perco
tua pele ainda nem atinjo
e meu olhar retribui a sua reverência

*

acalentando todas as vias entre
um
ponto
e
outro
labaredas ofegantes da atmosfera densa
todos os gritos e estrondos e nenhum som...

*

só contemplação...
só perdição...
só emoção...


(não sei de quem é o abstrato acima...)



segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Digitais diárias



a fraqueza distorcida
encontra morte no caminho
sua morte!
faz o resto renascer
em uma só face
um só tom

sempre vi a partir dos olhos estranhos
um mundo de culpa
figura repulsiva
tudo que não sou
agora fiz o peso dos ombros
cair de uma vez só

não existe o outro
uma só visão
pensamentos companheiros
sem pesar...
tudo novo...



domingo, 18 de outubro de 2009

momentos...



água para quem precisa...
sonhos confeccionados
mecanismos de controle
doses de calma

agonia camuflada
campos vastos de emoções diversas
novas cenas, novos estados mentais
e água para quem precisa...

compreensão e entendimento de si
excluindo o que não faz parte de nós
esclarecimentos...
tudo passa...


quarta-feira, 14 de outubro de 2009

ACOMPANHANDO A SEQUÊNCIA DOS DIAS


DESGASTO-ME EM NOVAS INCURSÕES
EXISTO POR NÃO HAVER NADA MELHOR A FAZER...
EXCESSO DE SANIDADE
EXCESSO DE MUITAS OUTRAS MÁSCARAS
DESCASO NOSSO EM NÃO ILUMINAR
A VÃ IMENSIDÃO
COM NOSSAS PEQUENAS SENTELHAS OCULTAS...
PARA QUE FIM?
ME ARRASTO PELO PISO
DANÇA MÓRBIDA...
SE TIRARMOS AS OBRIGAÇÕES DIÁRIAS
RESTA-NOS UM "EU"
IGUALMENTE OBRIGATÓRIO
DE SENTIDO OBSCURO
MESMO SEM HAVER SENTIDOS EM SI
MAS CRIAMOS O ÓBVIO:
- FARSAS E TRAGÉDIAS -
- NEUROSES DIVERSAS -
NOS AMARRAMOS A NÓS MESMOS
- CORRENTES VARIADAS -
E MESMO ÀQUILO QUE NÃO É APARENTE,
PARA QUE NOSSOS DIAS SEJAM MENOS PROLIXOS...
MENOS TEDIOSOS...
SEM GRAÇA.


terça-feira, 13 de outubro de 2009

NADA


(...)
e tudo o que te ofereço é nada...
nada posso permitir,
liberdade realizada
ao sul de nós mesmos, sentir...

e nada, realiza-se!
de tudo, te daria ao mesmo tempo...
em sensações só suas - desliza-se,
seu regozijo, meu experimento!

o nada torna-se abundante
no sorriso bobo do vencido...
obtusas considerações redundantes
vago valor por mim esquecido...

e nada é signo deste tudo
opostas intenções em confluência
eu - atos diversos, sentido confuso
tu - apenas o breve prazer da existência...

(ao som de John Coltrane - Alabama - Jazz Casual)
(... o que é para mim nada, para você pode significar um mundo a parte...)

Incoerência?



poesia ingrata
não te reconheço,
estranha decadência!
golpeia minha esperança,
apanha de mim
a estrada a minha frente...
não és por mim o que sou por ti.
Ilusão de difícil trato!
compostas de tantas certezas,
oblíquas palavras canalhas...
não és quem sangra
não és quem briga
não és quem sofre...
Mas também não és quem vive!
Mero brilho refletido!
meus fragmentos são sua existência
me despedaço para que vivas!



(... não permanecemos... mas a poesia permanece...)
(procurando maneiras de torturar e aterrorizar meu senso poético....)

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

a leveza das coisas...



INAPTO
CORPO
HABITADO
DE
INADAPTABILIDADE
PERMANENTEMENTE
IMPRECISA
:
não te pertence a fuga,
em sua forma
só cabe a realidade!

o peso das coisas...



todo o corpo chora
toques de violoncelo
o sopro último
de dias sem fim

todo o corpo chora
nuvens de chumbo
sobre olhos vermelhos
o ombro carrega

todo o corpo chora
só há a espera
a massa lenta
das visões contemporâneas

irremediável é o retorno, pois nunca houve como voltar
a flecha lançada não vem do lamento
mas o corpo chora, pois nunca lamentou...
é inconcisa a mediocridade, tempo perdido...

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

DES-VIRTUOSIDADE (adoro esse!)


(...)

E como o que nos interessa
é a profundidade,
das coisas mais densas
o ar rarefeito,
tocamos os raios sem que estes nos mate.
E desprovidos da insensatez mundana
- felizes deserdados -
fissuramos o estado das coisas existentes
e nos aninhamos
no nosso próprio caos criador!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

ECOS...

risos fáceis
chutam a lixeira
no profundo da noite,
dançando entre brumas e fumaça doce
da harmônica, a música...
gritos demarcam
a euforia contínua
e risadas fazem doer
os músculos abdominais...
abissais sentimentos
na boca fermentada
- vermelha e dourada -
na boca destilada
- gosto de madeira verde -
E entre misturas noturnas
na transparência do vidro
vejo as bobas aves de rapina
ao redor do corpo
cobiçando todas as partes...
caretas ousadas:
rio de vocês!
O som distorcido
a derrubam no chão
e mais cinco!
O teto gira louco
e loucas são todas as coisas
mundo de concreto
cheio de linhas coloridas.
E a noite camarada,
às vezes traiçoeira,
nada deixa faltar:
das lágrimas
aos risos
grandes goles de vida...
e os hematomas esquecidos
faz do corpo cartografia...
lábios com gostos atraentes
do limão, o gosto de cana fresca
outros lençóis cadenciados
que sejam todos os minutos profanos
não me importo com o instante
a noite que liberta
- liberta até demais -
é a que faz esquecer...
É sempre a mesma noite pueril,
como o sereno da calçada
que ao meio-dia
não mais existe...
e o que você jurou
nem mais se lembra
deixe tudo passar
mesmo que quadros feios sejam pintados...
Beba o café matinal
que as correntes forjadas no Sol
te golpearão mais uma vez...
e a realidade te puxa...
até que você se deixe perder novamente
qualquer noite dessas...

(e numa noite dessas, nesses caminhos tortos, a gente se encontra e bebe uma juntos...)
(... e a Maior-Abandonada sempre foi rainha de si mesma... e o abandono sempre foi charme...)

terça-feira, 6 de outubro de 2009

DEDUÇÃO


É MAIS FÁCIL

JULGAR AQUILO QUE NÃO CONHECES
DO QUE CONHECER
AQUILO QUE

JULGAS (?)
SER...

Considerações acerca da Margem do rio



Na margem ampla desse rio,
- verdor orvalhado -
- consciência sempre fresca -
Viva independente da corrente
conheça aquilo que as águas não puderam levar
leve consigo o que puder carregar...
Siga a margem,
não se perca!
Fluidez solidificada!
Crie raízes profundas,
apanhe o que lhe interessa
e deixe a água levar o resto.
Gotas compõem esta serpente uníssona
nenhuma mais reluzente...
Enquanto na sombra marginal
vibram os ângulos variados
formas sem estereótipos...
Os fragmentos mais ilustres do mundo
na margem foram parar
e até hoje lá residem!
Não beba desta água:
beba sua margem tênue!
Há sempre mais vida em sua margem
- antiteticamente vida! -
variadas percepções do próprio rio
criaturas cantantes
sonoridade cotidiana
gritos lúcidos
Ouça o que o rolar das águas esconde...
Não é o rio que se espelha em você
e nem sempre é possível espelhar-se no rio
Como ele próprio nunca é o mesmo,
permaneça ao lado esquerdo!
e aproprie-se de si!

(vivendo o meu descompromisso com a estética academizada da poesia...)

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

trivialidades


Carência de todas as coisas

muitos são seus tipos
coisas que nem sabemos
lados de nossos lados
sem o que nos satisfaça

esta miséria anônima
que nunca acaba
nos faz perder o sentido de tudo,
a invisível frieza
que engole nossos dias

mina o penhasco seguro
da nossa conformidade diária
nos projeta sombras feias
apaga com o vento nossa trilha -
e tudo se desfaz...

e no escuro não vemos nada
tateamos os corpos dos outros
buscando uma suposta saída
que pode não existir
nem dentro de nós mesmos

e este monstro deixa-nos muitas marcas
signos que nos compoem
restos dos sonhos dissolutos
de inefáveis momentos
levados pelos dias que vão passando por nós


(para ouvir: Dead Can Dance - Rakim ou Song of the Sibyl)

domingo, 4 de outubro de 2009

vestígios noturnos

(de Lauri Blank)

(...)
é o momento em que o corpo
deixa de ser apenas massa significativa
e amplifica-se em múltiplos sabores...
espaço finito entre a mão e a pele lisa
gestos curtos sobre o improvável
leveza denunciante da hesitação.

e os olhos escorregam por todas as partes
- os olhos, a respiração, a intenção...
fluem como se não soubessem o objetivo de fluirem
tentam parecer perdidos quando não estão...
alternados e comprometidos
em fugirem e em se fixarem

e nestas paredes que ainda nada ecoam
salvam apenas as intenções verdadeiras
labaredas imaginárias
destes pequenos esforços em se manter sóbrio
enquanto o corpo seguinte
o instiga em afogar-se...

e a noite continua soprando
profundo é seu gosto...
na reles penumbra que nada esconde
o corpo brilhante grita para si
,
sonhos feitos de carne
,
olhos famintos...
e sem mesmo se mexer, o corpo vaga...

observar (apenas) - pessoal tortura
quando sua figura oposta aproxima-se
(verdes, os olhos se incendeiam)
tocando sem tocar - queimando-o em ondas intensas
cálidos são os arrepios...
Vibra seus lábios com pura estática...
roubando-lhe para si todo seu ar febril...

(...)

(a melhor imagem é aquela que você mesmo faz diante das palavras que lê...)
(ouça o que eu ouço: You shook me/ Led Zeppelin ou Tender Surrender / Steve Vai)

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Som


(Noite Estrelada -Van Gogh)

Polaridade única
atrai um silêncio que vibra
e transforma os poros,
receptores dessa singularidade,
da música que impregna a carne
sonoridade efusiva
invade a alma
lançando o corpo
em movimentos coloridos.
Êxtase consciente
encontro e fuga...
e estas notas cortam o ser
em vários pedaços
mil realidades
progressividades antagônicas
que você vivencia
num último suspiro...
Grave é o suspiro
agudos são os rápidos instantes
dessas mãos ágeis
não-físicas
que os olhos não acompanham mais...
Deixando-nos pular
num mar sem fim
de impressões eternas...

(poucos permitem-se sentir o som como ele realmente é...)
(e pelo cheiro da noite o som se propaga...)