quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Prelúdio




1.

sou estas ondas
sustenidas
suspensas em tudo
que encontram no seu corpo
contrapontos e obstáculos não-resistentes
que me fazem ecoar
e me propagar em vago espaço
por minha existência preenchido
em 1/4 qualquer de meia-luz

*Mischa Maisky no cello

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Somente para os raros

Eu, Lobo da Estepe, vago errante
pelo mundo de neve encoberto;
um corvo sai de uma árvore, adejando,
mas não há corsas por aqui, nem lebres!
(...)
Por que de mim há de afastar-se tudo
quanto faz esta vida mais alegre?
(...)
ouço o soprar na noite fria
com neve aplaco o fogo da garganta
e levo para o diabo a minha alma.

(Hermann Hesse - O lobo da estepe)

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Novalis e seu Hino à Noite (lindíssimo...)


"De entre os seres vivos que têm o dom da sensibilidade haverá algum que não ame, mais do que todas as aparições feéricas do extenso espaço que o rodeia, a luz, em que tudo rejubila as suas cores, os seus raios, as suas vagas; e a suave omnipresença do seu dia que desponta?

Como se fora a alma mais íntima da vida, respira-o gigantesco orbe dos astros sem repouso, que flutua dançando no seu fluxo azul - respira-a a pedra faiscante, que sempiterna paz, as plantas sugadoras e meditativas, e os animais selvagens e ardentes, de tão várias figuras - todavia, mais do que todos, respira-a o excelso Estrangeiro, de olhar pensativo, passos incertos, lábios docemente apertados e repletos de harmonias. Como um rei da terrestre Natureza, ela convoca todas as potências para inúmeras transformações, prende e desprende perenes vínculos e envolve todos os seres terrenos, na sua celeste imagem. Somente pela sua presença desvela toda maravilha dos impérios do mundo.

Para além me volto, para a sacra, a indivizível, a misteriosa noite. Longínquo o mundo jaz - decaído para uma funda cripta - e ermo e solitário é o seu lugar. Nas cordas do peito sopra uma profunda nostalgia. Em gotas de orvalho me quero deixar afundar (...)"

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

NIHIL

lanço uma pedra
nas sedutoras aparências
do sentido, beneficentes...
e acerto os dentes
da representação

(fissuro o encanto da superfície do mundo...)

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

para além do sol...


asas peroladas
mais alto se elevam
nas brasas solares buscam encontro,
e para além destas
me guiam
num sentido potencializador de mim
livra-me de tudo
ultrapassa adversidades...
transcende identidades
e mesmo que eu vire fragmentos nesta viagem,
tocando o teto do mundo,
a dança última expansiva,
jamais encerrará a razão
nem atrofiará meus sentidos impressos...
no encontro de mim e desta possibilidade
eu me basto...

domingo, 20 de dezembro de 2009

INVERSÃO


ao fletir dos braços,
o magma da perna firme
na mão de sóbrio frio...

nos olhos vivos entre a penumbra,
a boca febril encontra
supressão de palavras galopantes

inverte a vida toda:
horas sem minuto,
o quente que não dói
o frio que vivifica...

*para ler ao som de "Faun - Egil Saga"

casulos...

Novos tempos brotam das gotas de água...
assim posso prever...
novas nascentes e novas sementes...
configurações exclusivas para o mesmo ser...

a pele palpita e flameja
que na potência de si transforma
gestos brandos e leve dança
saímos eternamente de um casulo (- não o mesmo casulo, nunca!)
abandonamos a casca inerte
e criamos o movimento...

de todos os medos sem caminhos
agora, todos os caminhos sem medo...

e na leveza caminhamos
e caminhamos quando não há leveza...

(há quem por medo do caminho,
no casulo permanece,
e apodrece ainda na casca,
sem ser tocado pelo primário filete de sol...)

Rilke e Eu

"No mundo, a coisa é determinada, na arte ela o deve ser mais ainda: subtraída a todo o acidente, libertada de toda a penumbra, arrebatada ao tempo e entregue ao espaço, ela se torna permanência, ela atinge a eternidade. (...)"

§

"Quero viver como se o meu tempo fosse ilimitado. Quero me recolher, me retirar das ocupações efêmeras. Mas ouço vozes, vozes benevolentes, passos que se aproximam e minhas portas se abrem..."


Para conhecer melhor Rilke: http://www.culturapara.art.br/opoema/rainermariarilke/rainermariarilke.htm

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Inquisidores de papel

Inquisidores de papel!
chantagens emocionais
sombra grotesca que avança sem ser sentida
vozes chamam o nome da indiferença
mas a vida é pequena
os dias passam
nem quentes
nem frios
e os caminhos pontiagudos
campos vastos em sensações
cravados constantemente pelos meus passos
firmes...
não mais anestesiados...
vivo cada coisa
e o que não me pertence
deixo para o vento levar
ou para apodrecer ao relento!

sábado, 12 de dezembro de 2009

regresso a familiaridade

Parke Harrison (imagem)
regresso viajante
vago por muitas veredas
campos intermináveis
contatos de dimensões multifaces
de muitos cálices bebi
trocas indefinidas
gosto acre, gosto doce, gosto ácido...
mas este céu escuro volta a ser só meu
morada plena de palavras familiares
meu
labirinto escuro...
meu
ninho de palavras...
meu
luar lúgubre...

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Texto de Anais Nin... (delícia)


Prezado colecionador:

O sexo perde todo o seu poder, toda a sua magia, quando se torna explícito, abusivo, quando se torna mecanicamente obcecante. Passa a ser enfadonho.

Nunca conheci pessoa que melhor provasse o erro que é não se lhe juntar a emoção, a fome, o desejo, a luxúria, os caprichos, as manias, os laços pessoais, relações mais profundas, que lhe mudam a cor, o perfume, os ritmos, a intensidade.

Nem o senhor sabe o quanto perde com esse seu exame microscópico da atividade sexual e a exclusão dos outros aspectos, que são o combustível que a faz atear. Intelectual, imaginativo, romântico, emocional. Eis o que dá ao sexo as suas surpreendentes texturas, as mudanças subtis, os elementos afrodisíacos. O senhor restringe o seu mundo de sensações. Disseca-o, definha-o, tira-lhe o sangue.
Se o senhor alimentasse a sua vida sexual com todas as aventuras e excitações que o amor instila a sensualidade, seria o homem mais poderoso do mundo. A fonte da potência sexual é a curiosidade, é a paixão. O que o senhor vê é sua débil chama a morrer de asfixia. O sexo não pode medrar na monotonia. Sem invenções, humores, sentimentos, não há surpresa na cama. O sexo deve ter à mistura lágrimas, riso, palavras, promessas, cenas, ciúme, todos os condimentos do medo, viagens ao estrangeiro, novas caras, romances, historias, sonhos, fantasias, musica, dança, ópio, vinho. O que o senhor perde com esse periscópio na ponta do sexo, quando podia gozar de um harém de maravilhas várias e jamais repetidas! Não há dois cabelos iguais; mas o senhor não quer que desperdicemos palavras a descrever uns cabelos. Não há dois cheiros iguais; porém, se nós nos detemos com isso, o senhor exclama: "Suprimam a poesia." Não há duas peles de igual textura; nunca é a mesma luz, a mesma temperatura, as mesmas sombras, nunca são os mesmos gestos; porque um amante, quando animado do verdadeiro amor, é capaz de vencer séculos e séculos de ciência amorosa. Quantas mudanças de tempo, quantas variações de maturidade e de inocência, de arte e de perversidade...

Discutimos até à exaustão para saber como seria o senhor. Se fechou os sentidos à seda, à luz, à cor, ao cheiro, ao caráter, ao temperamento, deve estar nesta altura totalmente empedernido. Há tantos sentidos menores que se lançam como afluentes no rio do sexo!

Só o bater em uníssono do sexo e do coração pode provocar o êxtase.

Anaïs Nin, 1941

Pan-erotismo: a dança da vida


(a M. Rebouças, com carinho)

Pan-erotismo: a dança da vida


Caos é uma dança, uma fluida e erótica dança da vida. E a civilização odeia o caos e, por isso, também odeia Eros. Mesmo no suposto tempo livre da sexualidade, a civilização reprime o erótico. Ela ensina que orgasmos são eventos que acontecem somente em algumas pequenas partes de nossos corpos e só através da manipulação correcta das partes. Isso apertou Eros na armadura de Marte, fazendo sexo numa economia competitiva, realização centralizada no trabalho, em vez de um alegre e inocente jogo.

Mesmo assim, no meio dessa repressão, Eros recusa-se a aceitar este molde. A Sua alegria e forma de dançar fazem, aqui e ali, interrupções através da armadura de Marte. Tão cegos como a nossa existência civilizada, a dança da vida continua a escorrer na nossa consciência de poucas formas. Um olhar para o pôr do sol, estar em pé no meio da floresta, subir uma montanha, ouvir pássaros cantarem, estar descalço em uma praia, e começaremos a sentir uma certa exaltação, uma sensação de temor e alegria. Isso é o início de um orgasmo no corpo inteiro, não se limitando às, assim chamadas, “zonas erógenas” da civilização, mas a civilização nunca deixa os sentimentos se auto-realizarem. Caso contrário, perceberíamos que tudo o que não é produto da civilização é vivo e alegremente erótico.

Mas alguns de nós estão lentamente despertando da anestesia da civilização. Nós estamos cientes que cada pedra, cada árvore, cada rio, cada animal, cada ser no universo não está apenas vivo, mas que está mais vivo do que nós seres civilizados. Esta consciência não é apenas intelectual. Ela não será uma outra teoria acadêmica transformada pela civilização. Nós sentimos isso. Nós ouvimos as canções de amor dos rios e das montanhas e enxergamos as danças das árvores. Nós não mais queremos usá-las com coisas mortas, uma vez que elas estão muito vivas. Nós queremos ser seus amantes, incorporar-se nas suas lindas danças eróticas. E ela fascina-nos. A dança da morte da civilização congela cada célula, cada músculo dentro de nós. Nós sabemos que seremos desastrados bailarinos e amantes desajeitados. Nós seremos loucos. Mas a nossa liberdade está na nossa insensatez. Se podemos ser loucos, temos de começar a quebrar as cadeias da civilização, temos de começar a perder a nossa necessidade de consumir. Sem a necessidade de consumir, temos tempo para aprender a dança da vida; temos tempo para nos tornarmos amantes de árvores, pedras e rios. Ou, mais precisamente, o tempo, para nós, passa a não existir e a dança passa a ser as nossas vidas ao aprendermos a amar tudo o que vive. E se não aprendermos a dançar a dança da vida, toda a nossa resistência à civilização será inútil. E esta continuará mais uma vez a governar dentro de nós e voltaremos novamente a criá-la.

Por isso dancemos a dança da vida. Vamos dançar desajeitados e sem vergonha, e quem de nós, pessoas civilizadas, não é desastrada? Vamos fazer amor com os rios, as árvores, as montanhas; com os nossos olhos, os nossos pés, as nossas mãos e os nossos ouvidos. Deixa todas as partes do corpo despertar o erótico êxtase da dança da vida. Vamos voar. Vamos dançar. Vamos curar. Descobriremos que as nossas imaginações são fortes, que fazem parte da dança erótica que pode criar o mundo que desejamos.

por Feral Faun

Do panfleto, “Rants, Essays and Polemics of Feral Faun (Declamações, Crônicas e polêmicas do Feral Faun)” - Chaotic Endeavors, 1987. Reimpresso no Green Anarchy #10 (Fall 2002)

domingo, 6 de dezembro de 2009

limitações


Eg har gjørt død til liv...
Men eg kan ikkje gå i døden for deg...

(eu transformei a morte em vida... mas eu não posso morrer por você... - em norueguês)


da compreensão alheia (ou sobre a inexistência desta)


"(...) "é preferível fazer qualquer coisa que não fazer nada" - esse princípio também é uma corda apropriada para estrangular todo gosto superior." - Nietzsche (Gaia Ciência, #329, p. 226)

(pequeno fragmento que resume simplesmente o meu modo de ver a produção artística como um todo... é também minha homenagem a este que há tempos faz morada entre meus livros... )

Poeta é aquele que sai da zona de conforto...

A poesia só habita
moradas sem conforto...
- (a posteriori, encontra outros ambientes talvez)
quando renega a si
e mesmo a opinião dos outros...
e se deixa guiar pela fluidez do lápis
criando novos cais ou novos abismos...

Comprometer-se com aquele que lê
- intenções de estratégias pessoais -
é desejo de evidenciar seu próprio ego,
é querer recompensas:
não por palavras pertinentemente desabrochadas,
mas pelo disfarce -
liberdade incapaz,
pensamentos tolos,
mente obtusa,
alma imatura...

"Quando etiam sapientibus gloriae cupido novissima exuitur"

Aforismo sobre o processo de inspiração

Inspiração NÃO é fazer igual...
é justamente aquilo que difere do objeto inspirado
é a DIFERENÇA,
um olhar expandido.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Reverências... (à Clarice)

(sorry... não tenho a referência da imagem)

"Viver em sociedade é um desafio, porque às vezes ficamos presos a determinadas normas que nos obrigam a seguir regras limitadoras do nosso ser ou do nosso não-ser...
Quero dizer com isso que nós temos, no mínimo, duas personalidades: a objetiva, que todos ao nosso redor conhece; e a subjetiva... Em alguns momentos, esta se mostra tão misteriosa que se perguntarmos - Quem somos? Não saberemos dizer ao certo!!!
Agora de uma coisa eu tenho certeza: sempre devemos ser autênticos, as pessoas precisam nos aceitar pelo que somos e não pelo que parecemos ser... Aqui reside o eterno conflito da aparência x essência. E você... O que pensa disso?


Que desafio, hein?
"... Nunca sofra por não ser uma coisa ou por sê-la..." (Clarice Lispector - Perto do Coração Selvagem - p.55)

--->> Pequena homenagem a um ser que ainda me causa demasiadas fascinação, identificação, curiosidade e inspiração...

corpo: poesia sensasionalista


o corpo se exibe através da dor
numa poesia ainda colorida...
Por si só,
- sempre espetáculo -
é inventário, é caminho, é fim...
e é, na maioria das vezes,
espaço renegado...
pois preferimos habitar a complexidade corpórea do outro - onde nos perdemos...

para onde fugimos...



segunda-feira, 30 de novembro de 2009

aço

confesso todos
meus fragmentos de aço
no entendimento de que agora sou também isso:
mil pedaços
não vencidos


(Imagem: Gustave Moreau - Salomé)

poesia consciente

e a poesia cortou os pulsos...
gotejou versos lânguidos
renascendo... toda prosa!

borboleta

nua
crua
a solidão me toma
da multidão de espectros frios
expectadores pacientes...
solitude que me transmuta
em pura consistência
condição de áurea borboleta...
e flutuo
entre trincheiras de versos
desconexos...
...que desconheço!


confiança

desentendimentos vãos...
vida de verde musgo liso
onde os dias escorregam
e a confiança se quebra
fratura exposta da alma
no pedaço já fissurado desta...

(não sei a autoria da figura... sorry!)

destino


Vivo no desalinho
na linha segura do trem...
que não mais passa...
que não mais vem
tanto faz ficar,
tanto faz sair...
da estrada completada,
no horizonte jamais atingido...

Poema de Incondicionalidade

(a Gustavo... pelo seu amor sem igual)

na fúria
do meu surto comum,
suportas minha falsa leveza
com mãos amáveis
proteção inabalável...
nos rancores alheios
erro, por vezes, os alvos...
e se te acerto sem querer,
sou eu quem morro...
pois mesmo assim,
transcende-me em amor
compreensão que não compreende
mas que aceita!
e na sua sombra
sou pequena,
fragilidade enigmática
cristalizada...
pueril... na valsa do teu corpo...

Ambiente


vaso de cera,
risco em Dó...
na luz ambiente
desta manhã de segunda

numa segunda-feira...

Bipolaridade


DIA É ACELERAÇÃO!!!
pulamos etapas,
TODAS!
mente estratificada
meu mundo, um bloco
monolito de fria cor
de 08 a 80
não vivemos o desenvolvimento desta sentença,
equação indiferente
que equação? Só resultado...

(NESTE RITMO A ALMA
ESTICA, ENCOLHE, ENROLA,
Nunca ALCANÇA!
mas nos cansa... e como tudo isso cansa!)

coletividade


"sou minha própria narrativa!"
que grande bobagem!
narramos a todos nós!
toda história anterior,
interior construção!
célula orgânica
tudo habita a minha experiência
(...)
limite onde? o que é só meu?

essência deste blog...


nada disso é propositalmente bonito,
palavras sem exigência...
desejo
desconforto
amor
ódio
misantropia
afeto
arte
idiossincrasias
sensibilidade
tédio...
tudo se basta como representação
de um mundo externo
(meu mundo interno)
nada virtual...
sem almejar riscos ou risos.
Prefiro minha própria verdade
que está aí para quem quiser provar...
um album de figurinhas não-colecionáveis...
com seguidores legítimos
que não coleciono,
mas que nas minhas palavras veem significações...

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

... and in my tongue...

na ponta da língua: cartografia...
a alma toda, (perdida)
o corpo inteiro, (entregue)
como se não bastasse o momento... (unidade)



(como esse blog é esquisito, né???)

Luar Lúgubre

(...) e a Lua derrete-se sobre as nuvens
espelha as brumas na noite escura
torna-a falso-dia
aqui, neste mundo entre árvores,
entre sonhos...
entre decepções...
entre vontades conscientes...

(a cada noite, a Lua faz de seu show minha morada fria, mas desejada!)

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

martírio moderno (e todos os outros sacrifícios)

não serei mártir
de palavras vivas...
sem rendição expressa!
ou entre-linhas vive-se,
ou deixa-se corroer por este envoltório profano,
tempo plastificado,
que nos sufoca
e suprime a mente liberta
e o desejo de ultrapassarmos
a nós mesmos...

(ouça: The Gathering / Saturnine)

PROCESSOS CONTÍNUOS


PLANTAMOS
NOSSAS
LÁGRIMAS
ONDE
COLHEMOS
NOSSOS
FRAGMENTOS!

BROTAMOS DE NÓS MESMOS
QUANDO COMPREENDEMOS
NOSSOS
(NOVOS)
PEDAÇOS,
SEM A INTENÇÃO DE
JUNTÁ-LOS NOVAMENTE...

(ao som de Learning to fly / Pink Floyd)

Reminiscência


A beleza do claro espírito,
mil motivos e mil palavras,
não forçou a alma ferrosa
de obtusa condição
tão suficiente de si mesma
a reconhecer tamanha nobreza...

Este é o destino de certas flores:
nascem para amortecer as garras contra o chão
e em milhares de pedaços
encerram sua existência
- apenas por alguns instantes...

Raízes percorrem as profundezas
nutrem o claro espírito
de novos gostos, formas aleatórias
e os sabores arenosos da alma ferrosa
compõem apenas vagas reminiscências,
cortes grotescos que o tempo fecha...


(por baixo de nossas armaduras, guardamos cortes profundos, milhares deles até... mas não os tocamos... os perdemos dentro de nós mesmos... em algum lugar de nossas almas.)

(leia ouvindo "Afraid of Sunlight" de Marillion)

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

DANÇA


mares
verdes
campos
dança de olhos em jardins noturnos
sons que nos embalam
para além do horizonte...
e no vento quente do verão escuro
tecidos sedosos deslizam no ar

movimentos delicados
pernas
braços
ventre
olhos
todos propositais!
e em polifonia oriental,
múltiplas culturas distantes...
no palpitar grave da percussão
em pele quente...
da minha dança febril
ao cheiro da chuva na terra
olhos hipnóticos...

(vejo meu movimento no espelho dos seus olhos...)

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

dos tabus poéticos...


OU O POEMA AGRADA
OU ELE NÃO É BOM

OU ELE É BOM
POR NÃO AGRADAR

PADRÕES SÓLIDOS?
ENTÃO, ARTE INEXISTENTE!

IMAGENS DIVERSIFICADAS DE SI
LOGO, INCOMPREENSÃO!


(no limite do que não compreendemos reside coisas preciosas... O que é repulsivo não está no poema, está em si, pois aquilo que lhe parece desconfortável é seu próprio reflexo...)
(o que aparentemente é bizarro, possui consciência...)

(para ouvir: Eluveitie - The Cauldron of Renascence)

Coisas que gosto...

"Está tudo planejado:
se amanhã o dia for cinzento,
se houver chuva
se houver vento,
ou se eu estiver cansado
dessa antiga melancolia
cinza fria
sobre as coisas
conhecidas pela casa
a mesa posta
e gasta
está tudo planejado
apago as luzes, no escuro
e abro o gás
de-fi-ni-ti-va-men-te
ou então
visto minhas calças vermelhas
e procuro uma festa
onde possa dançar rock
até cair"

(CAIO FERNANDO ABREU)

Fusões...

(...)

grama, tapete verde de múltiplos tentáculos, segura o corpo ao chão, enquanto outro corpo comprime contra si evidências de uma alma insolúvel, que jamais se rende e que ao mesmo tempo, já se rendeu e o outro nem sabe...

sabores diversos impregnam as entranhas e o cheiro de noite fresca projeta um ambiente obscuro e fecundo de novas intenções... incontáveis desejos e pensamentos difusos em cada canto do corpo...

o vento orvalhado traz fragmentos de realidade aos corpos perdidos em uma esfera paralela, transmutados em energia única - no limite da sombra da noite e da curva do corpo, só há nos olhos reverência e compreensão... todo resto é sentido, todo resto se funde...

(--->>> continua...)

órbita provisória


temos todo direito de ser isso tudo:
transcender a figura
desfigurar a imagem
retorcer o corpo
retroceder o tempo...

breves são estes dias
finitas possibilidades...

quanto mais se segura,
mais se perde
aquilo que só existe como imaginação...

os novos dias?
todos armadilhas ainda...
todas as armadilhas...


(... nem sempre queremos isso que produzimos e os outros chamam de arte...)

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

NUIT



eu não durmo para poder saborear a noite
e é a noite que me saboreia...
me encerro em mil imagens...
luxúrias noturnas,
todas as palavras lhes levam ao meu
domínio...
territórios de
ásperos
ou
doces
significados

TUDO DENTRO DO TODO



resistem um olhar estelar,
um corpo dual
e sombras simétricas fora de curso...

*

domino os contornos energético,
das vibrações, as mais contínuas
e lateja minha existência...

*

viveu mil anos e não viveu ainda
sonhos pulsantes, pulsares intangíveis
dentro de um ser único, recém-des-coberto!

*
minha face na tua perco
tua pele ainda nem atinjo
e meu olhar retribui a sua reverência

*

acalentando todas as vias entre
um
ponto
e
outro
labaredas ofegantes da atmosfera densa
todos os gritos e estrondos e nenhum som...

*

só contemplação...
só perdição...
só emoção...


(não sei de quem é o abstrato acima...)



segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Digitais diárias



a fraqueza distorcida
encontra morte no caminho
sua morte!
faz o resto renascer
em uma só face
um só tom

sempre vi a partir dos olhos estranhos
um mundo de culpa
figura repulsiva
tudo que não sou
agora fiz o peso dos ombros
cair de uma vez só

não existe o outro
uma só visão
pensamentos companheiros
sem pesar...
tudo novo...



domingo, 18 de outubro de 2009

momentos...



água para quem precisa...
sonhos confeccionados
mecanismos de controle
doses de calma

agonia camuflada
campos vastos de emoções diversas
novas cenas, novos estados mentais
e água para quem precisa...

compreensão e entendimento de si
excluindo o que não faz parte de nós
esclarecimentos...
tudo passa...


quarta-feira, 14 de outubro de 2009

ACOMPANHANDO A SEQUÊNCIA DOS DIAS


DESGASTO-ME EM NOVAS INCURSÕES
EXISTO POR NÃO HAVER NADA MELHOR A FAZER...
EXCESSO DE SANIDADE
EXCESSO DE MUITAS OUTRAS MÁSCARAS
DESCASO NOSSO EM NÃO ILUMINAR
A VÃ IMENSIDÃO
COM NOSSAS PEQUENAS SENTELHAS OCULTAS...
PARA QUE FIM?
ME ARRASTO PELO PISO
DANÇA MÓRBIDA...
SE TIRARMOS AS OBRIGAÇÕES DIÁRIAS
RESTA-NOS UM "EU"
IGUALMENTE OBRIGATÓRIO
DE SENTIDO OBSCURO
MESMO SEM HAVER SENTIDOS EM SI
MAS CRIAMOS O ÓBVIO:
- FARSAS E TRAGÉDIAS -
- NEUROSES DIVERSAS -
NOS AMARRAMOS A NÓS MESMOS
- CORRENTES VARIADAS -
E MESMO ÀQUILO QUE NÃO É APARENTE,
PARA QUE NOSSOS DIAS SEJAM MENOS PROLIXOS...
MENOS TEDIOSOS...
SEM GRAÇA.


terça-feira, 13 de outubro de 2009

NADA


(...)
e tudo o que te ofereço é nada...
nada posso permitir,
liberdade realizada
ao sul de nós mesmos, sentir...

e nada, realiza-se!
de tudo, te daria ao mesmo tempo...
em sensações só suas - desliza-se,
seu regozijo, meu experimento!

o nada torna-se abundante
no sorriso bobo do vencido...
obtusas considerações redundantes
vago valor por mim esquecido...

e nada é signo deste tudo
opostas intenções em confluência
eu - atos diversos, sentido confuso
tu - apenas o breve prazer da existência...

(ao som de John Coltrane - Alabama - Jazz Casual)
(... o que é para mim nada, para você pode significar um mundo a parte...)

Incoerência?



poesia ingrata
não te reconheço,
estranha decadência!
golpeia minha esperança,
apanha de mim
a estrada a minha frente...
não és por mim o que sou por ti.
Ilusão de difícil trato!
compostas de tantas certezas,
oblíquas palavras canalhas...
não és quem sangra
não és quem briga
não és quem sofre...
Mas também não és quem vive!
Mero brilho refletido!
meus fragmentos são sua existência
me despedaço para que vivas!



(... não permanecemos... mas a poesia permanece...)
(procurando maneiras de torturar e aterrorizar meu senso poético....)

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

a leveza das coisas...



INAPTO
CORPO
HABITADO
DE
INADAPTABILIDADE
PERMANENTEMENTE
IMPRECISA
:
não te pertence a fuga,
em sua forma
só cabe a realidade!

o peso das coisas...



todo o corpo chora
toques de violoncelo
o sopro último
de dias sem fim

todo o corpo chora
nuvens de chumbo
sobre olhos vermelhos
o ombro carrega

todo o corpo chora
só há a espera
a massa lenta
das visões contemporâneas

irremediável é o retorno, pois nunca houve como voltar
a flecha lançada não vem do lamento
mas o corpo chora, pois nunca lamentou...
é inconcisa a mediocridade, tempo perdido...

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

DES-VIRTUOSIDADE (adoro esse!)


(...)

E como o que nos interessa
é a profundidade,
das coisas mais densas
o ar rarefeito,
tocamos os raios sem que estes nos mate.
E desprovidos da insensatez mundana
- felizes deserdados -
fissuramos o estado das coisas existentes
e nos aninhamos
no nosso próprio caos criador!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

ECOS...

risos fáceis
chutam a lixeira
no profundo da noite,
dançando entre brumas e fumaça doce
da harmônica, a música...
gritos demarcam
a euforia contínua
e risadas fazem doer
os músculos abdominais...
abissais sentimentos
na boca fermentada
- vermelha e dourada -
na boca destilada
- gosto de madeira verde -
E entre misturas noturnas
na transparência do vidro
vejo as bobas aves de rapina
ao redor do corpo
cobiçando todas as partes...
caretas ousadas:
rio de vocês!
O som distorcido
a derrubam no chão
e mais cinco!
O teto gira louco
e loucas são todas as coisas
mundo de concreto
cheio de linhas coloridas.
E a noite camarada,
às vezes traiçoeira,
nada deixa faltar:
das lágrimas
aos risos
grandes goles de vida...
e os hematomas esquecidos
faz do corpo cartografia...
lábios com gostos atraentes
do limão, o gosto de cana fresca
outros lençóis cadenciados
que sejam todos os minutos profanos
não me importo com o instante
a noite que liberta
- liberta até demais -
é a que faz esquecer...
É sempre a mesma noite pueril,
como o sereno da calçada
que ao meio-dia
não mais existe...
e o que você jurou
nem mais se lembra
deixe tudo passar
mesmo que quadros feios sejam pintados...
Beba o café matinal
que as correntes forjadas no Sol
te golpearão mais uma vez...
e a realidade te puxa...
até que você se deixe perder novamente
qualquer noite dessas...

(e numa noite dessas, nesses caminhos tortos, a gente se encontra e bebe uma juntos...)
(... e a Maior-Abandonada sempre foi rainha de si mesma... e o abandono sempre foi charme...)

terça-feira, 6 de outubro de 2009

DEDUÇÃO


É MAIS FÁCIL

JULGAR AQUILO QUE NÃO CONHECES
DO QUE CONHECER
AQUILO QUE

JULGAS (?)
SER...

Considerações acerca da Margem do rio



Na margem ampla desse rio,
- verdor orvalhado -
- consciência sempre fresca -
Viva independente da corrente
conheça aquilo que as águas não puderam levar
leve consigo o que puder carregar...
Siga a margem,
não se perca!
Fluidez solidificada!
Crie raízes profundas,
apanhe o que lhe interessa
e deixe a água levar o resto.
Gotas compõem esta serpente uníssona
nenhuma mais reluzente...
Enquanto na sombra marginal
vibram os ângulos variados
formas sem estereótipos...
Os fragmentos mais ilustres do mundo
na margem foram parar
e até hoje lá residem!
Não beba desta água:
beba sua margem tênue!
Há sempre mais vida em sua margem
- antiteticamente vida! -
variadas percepções do próprio rio
criaturas cantantes
sonoridade cotidiana
gritos lúcidos
Ouça o que o rolar das águas esconde...
Não é o rio que se espelha em você
e nem sempre é possível espelhar-se no rio
Como ele próprio nunca é o mesmo,
permaneça ao lado esquerdo!
e aproprie-se de si!

(vivendo o meu descompromisso com a estética academizada da poesia...)